As palavras verdadeiras não são agradáveis e as agradáveis não são verdadeiras.
Praticar a sinceridade na sociedade em que vivemos é um grande desafio.
O importante é conseguir primeiro ser honesto consigo mesmo antes de praticá-la com os outros.
Assim, conseguimos nos manter autênticos.
Vivemos em tempos em que a verdade, muitas vezes, se apresenta como um desafio, um ato de coragem. A frase provocativa — “As palavras verdadeiras não são agradáveis, e as agradáveis não são verdadeiras” — convida-nos a refletir profundamente sobre o peso e a consequência de nossas escolhas linguísticas. Essa afirmação, atribuída a Lao-Tsé, ecoa com força no mundo contemporâneo, onde a busca por agradar frequentemente se sobrepõe à prática da sinceridade.
A sociedade moderna, marcada por redes sociais, aparências cuidadosamente construídas e interações frequentemente superficiais, parece colocar a autenticidade em segundo plano. Contudo, é fundamental reconhecer que a sinceridade não é apenas uma questão de dizer o que pensamos aos outros, mas, sobretudo, de sermos honestos conosco mesmos. Aqui reside o cerne da questão: como cultivar a autenticidade em um ambiente que, muitas vezes, premia a conveniência e a agradabilidade?
A Dicotomia entre Agradar e Ser Verdadeiro
Por que as palavras agradáveis, frequentemente, não coincidem com a verdade? A resposta pode residir na natureza humana de evitar o desconforto. Em muitas situações, dizer o que realmente pensamos pode gerar atritos, provocar incômodos ou até mesmo abalar relações. Agradar, por outro lado, nos oferece a sensação de pertencimento e aceitação.
No entanto, ao priorizarmos a agradabilidade, corremos o risco de perder algo essencial: a conexão com quem realmente somos. Afinal, quem nunca deixou de expressar uma opinião para evitar conflitos? Quem nunca preferiu o silêncio à honestidade? Esse hábito, aparentemente inofensivo, pode se transformar em um padrão nocivo, afastando-nos de nossa autenticidade e gerando uma desconexão interna.
O Primeiro Passo: Sinceridade Conosco Mesmos
Praticar a sinceridade começa, invariavelmente, por olhar para dentro. Antes de sermos honestos com os outros, precisamos nos perguntar: estamos sendo verdadeiros conosco mesmos? Esse é um exercício que exige coragem e autocrítica, pois implica enfrentar nossas próprias contradições, medos e desejos.
Ser honesto consigo mesmo é um ato libertador, mas nem sempre é agradável. Muitas vezes, precisamos admitir que estamos insatisfeitos com escolhas que fizemos, reconhecer falhas ou aceitar que nossos sonhos mudaram ao longo do tempo. No entanto, essa honestidade interna é indispensável para nos mantermos autênticos.
A Autenticidade como Alicerce da Vida Plena
Quando conseguimos praticar a sinceridade interna, ela inevitavelmente transborda para nossas interações com o mundo. Pessoas autênticas possuem uma força particular: elas inspiram confiança. Isso não significa que devemos ser duros ou insensíveis ao comunicar verdades; ao contrário, a sinceridade pode e deve ser temperada pela empatia.
A autenticidade, longe de ser sinônimo de brutalidade, é uma prática que exige sabedoria. Nem toda verdade precisa ser dita, e o modo como ela é comunicada faz toda a diferença. Como nos lembra Mário Sérgio Cortella, “gentileza não é sinal de fraqueza, mas de grandeza”. Assim, ser sincero não exclui ser gentil. Pelo contrário, quando conseguimos alinhar nossa verdade à compaixão, criamos relações mais profundas e significativas.
O Desafio da Sinceridade no Mundo Atual
No cenário contemporâneo, onde a velocidade e a superficialidade predominam, a sinceridade se torna um ato quase revolucionário. Redes sociais, por exemplo, são ambientes onde a agradabilidade é recompensada: curtidas, comentários positivos e compartilhamentos muitas vezes decorrem de posts que não refletem a verdade do que somos, mas, sim, a versão idealizada que escolhemos apresentar.
Nesse contexto, praticar a sinceridade exige mais do que coragem; exige resiliência. É preciso estar disposto a enfrentar críticas e até mesmo rejeições. No entanto, também é preciso lembrar que a autenticidade atrai conexões verdadeiras. Quando somos fiéis a nós mesmos, inevitavelmente nos cercamos de pessoas que valorizam quem realmente somos.
Praticando a Sinceridade: Pequenos Passos
Como, então, começar a praticar a sinceridade em um mundo que frequentemente recompensa o contrário? A resposta está nos pequenos gestos. Comece questionando-se diariamente: “Estou sendo verdadeiro comigo mesmo?” Esse exercício simples, mas poderoso, pode ser transformador.
Além disso, ao interagir com os outros, procure ser autêntico em suas opiniões, mas sem perder a empatia. Lembre-se de que o tom e a intenção são tão importantes quanto as palavras ditas. E, acima de tudo, não tenha medo de admitir erros ou de mudar de ideia — esses são sinais de força, não de fraqueza.
A Liberdade da Autenticidade
A prática da sinceridade, embora desafiadora, é uma das maiores expressões de liberdade que podemos vivenciar. Quando deixamos de lado a necessidade de agradar a todo custo e abraçarmos nossa verdade, encontramos um senso de paz interior que nenhuma validação externa pode oferecer.
Portanto, ao nos depararmos com a escolha entre ser agradáveis ou ser verdadeiros, optamos, sempre que possível, pela autenticidade. Não porque seja o caminho mais fácil, mas porque é o único que nos conduz a uma vida plena, genuína e alinhada com o que realmente somos.