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Sete Momentos de Reflexão: O Encontro com as Contradições da Alma

Sete vezes desprezei minha alma:

Quando a vi disfarçar-se com a humildade para alcançar a grandeza;

Quando a vi corar na presença dos coxos;

Quanto lhe deram a escolher entre o fácil e o difícil, e escolheu o fácil;

Quando cometeu um mal e consolou-se com a ideia de que outros cometem o mal também;

Quando aceitou a humilhação por covardia e atribuiu sua paciência à fortaleza;

Quando desprezou a fealdade de uma face que não era, na realidade, senão uma de suas próprias máscaras;

Quando considerou uma virtude elogiar e glorificar.

A alma humana, esse vasto território de complexidade e contradição, revela-se em seus instantes de maior intensidade. Há momentos em que, diante de nossas escolhas e atitudes, reconhecemos não apenas nossas virtudes, mas também nossos deslizes. Khalil Gibran, ao enumerar os sete desprezos de sua alma, oferece uma lente poderosa para examinar as falhas que frequentemente nos ocultamos de nós mesmos. Ao analisarmos essas confissões, somos chamados a uma reflexão profunda sobre o que significa ser humano e sobre como nossas ações espelham, ou negam, os valores que pretendemos abraçar.

A Humildade Travestida de Ambição

A humildade é frequentemente vista como uma virtude nobre, mas, quando disfarçada para alcançar a grandeza, torna-se uma máscara para a ambição desmedida. Não seria essa, afinal, uma inversão perigosa do próprio ideal de humildade? Aqui, Gibran nos convida a refletir: quantas vezes adotamos posturas que julgamos humildes apenas para atrair reconhecimento? É nesse ponto que o ato humilde se transforma em artifício, um engano tanto para os outros quanto para nós mesmos.

O Rubor Diante da Diferença

O segundo desprezo fala sobre a vergonha ao estar na presença dos “coxos”, uma metáfora para aqueles que carregam fragilidades. O rubor, nesse contexto, simboliza o desconforto que sentimos ao confrontar as imperfeições alheias, que nada mais são do que reflexos de nossas próprias vulnerabilidades. A rejeição ao outro é, muitas vezes, a rejeição de nós mesmos, projetada em quem nos parece diferente.

O Fácil, Tentação Perene

Escolher o caminho mais fácil, ainda que sedutor, pode ser o reflexo de uma alma que evita desafios. Aqui, a pergunta que se impõe é: até que ponto nossas escolhas são pautadas pelo medo do fracasso ou pela busca de conforto imediato? Para Cortella, essa decisão pode ser interpretada como uma fuga do desenvolvimento pessoal, uma abdicação ao aprendizado que emerge da dificuldade.

O Consolar-se no Erro Comum

Quando nos justificamos dizendo que “outros também erram”, abraçamos uma postura de mediocridade. Tal atitude nos isenta, falsamente, de responsabilidade e nos impede de crescer. Como Cortella diria, “errar é humano, mas persistir no erro é insistir na pequenez”. A verdadeira virtude está em reconhecer o erro sem buscar consolo em sua universalidade.

A Covardia Mascarada de Fortaleza

Ao aceitar a humilhação e chamá-la de paciência, a alma engana a si mesma, confundindo covardia com resiliência. A paciência é uma força que suporta o peso da adversidade, mas a covardia, disfarçada de paciência, é um ato de submissão que mina a dignidade. Gibran nos convida a discernir entre as duas, para não transformar o silêncio do medo em uma virtude fictícia.

A Face Feia, o Espelho Oculto

Desprezar a fealdade em outro é, muitas vezes, desprezar uma parte de nós que não queremos reconhecer. A face que julgamos feia pode ser, na verdade, um espelho de nossas próprias imperfeições. Reconhecer isso é essencial para cultivar a empatia, uma virtude que nos conecta com a humanidade do outro e, por extensão, com a nossa própria.

O Elogio como Vaidade

Por fim, Gibran questiona o valor do elogio que nasce da necessidade de glorificar. Para Cortella, o verdadeiro elogio não busca exaltar, mas reconhecer genuinamente o mérito. Quando elogiamos para engrandecer, estamos, na verdade, projetando nossa vaidade e desviando-nos da honestidade.

Uma Jornada de Autoconhecimento

Esses sete momentos de desprezo não são apenas um registro de falhas humanas, mas uma chamada ao autoconhecimento. Eles nos desafiam a olhar para dentro e a reconhecer as contradições que habitam nossa alma. Como Cortella sempre destaca, a reflexão é um caminho árduo, mas indispensável para a construção de uma vida ética e significativa. É preciso coragem para admitir os próprios deslizes e buscar, neles, uma oportunidade de crescimento.