Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra.
A vida é um todo indivisível.
Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra.
A vida é um todo indivisível.
Viver exige um alinhamento profundo entre o que se pensa, o que se diz e o que se faz. Quando Gandhi nos alerta que “um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra”, ele nos apresenta uma ideia fundamental: a integridade é indivisível. Não é possível segmentar a vida em compartimentos estanques onde princípios e valores são aplicados seletivamente. A vida é um todo, e a coerência entre as partes é o que dá sentido ao todo.
Essa perspectiva é desconfortável porque nos confronta com a hipocrisia que, em maior ou menor grau, todos carregamos. É mais fácil apontar as falhas alheias enquanto justificamos as nossas. É tentador acreditar que pequenos desvios éticos em um aspecto de nossa existência não contaminam o restante. No entanto, assim como uma gota de tinta altera a transparência de um copo de água, nossas ações incoerentes mancham o tecido de nossa integridade.
A ilusão da divisão moral
Muitas vezes, somos tentados a viver sob a lógica da “compensação ética”. Trabalhamos duro para sermos bons pais, filhos ou colegas, mas ignoramos as responsabilidades que temos com o meio ambiente, com a sociedade ou com nosso próprio corpo. E então nós dizemos: “Faço o bem aqui; ali posso relaxar”. Essa fragmentação pode ser confortável, mas é ilusória. A vida não é um mosaico de escolhas independentes; é uma tapeçaria, onde cada fio que rompemos compromete o desenho maior.
A coerência como virtude ativa
Coerência não é perfeição. Não significa que sejamos imunes a erros ou contradições. Significa, sim, que reconhecemos essas falhas e nos esforçamos continuamente para alinhá-las. É preciso coragem para viver em harmonia com aquilo que defendemos. Como o próprio Gandhi exemplificou, a coerência não é estática; é uma jornada. É buscar agir no pequeno e no grande, no público e no privado, com o mesmo senso de responsabilidade.
Por exemplo, é contraditório defender a justiça social enquanto nos envolvemos em práticas que exploram os vulneráveis. É incoerente pregar sustentabilidade ambiental enquanto mantemos hábitos de consumo destrutivos. As contradições nos alertam para os pontos cegos da nossa existência. Elas não são apenas sinais de erro, mas convites ao crescimento.
O impacto da coerência nos relacionamentos
A hipocrisia não é apenas um problema pessoal; ela afeta os outros. Relacionamentos, sejam eles pessoais ou profissionais, são construídos sobre a confiança, e a confiança requer consistência. Quando nossas palavras não correspondem às nossas ações, geramos dúvidas e, eventualmente, desconfiança. Somos julgados não pelo que prometemos, mas pelo que entregamos.
Pensemos em uma liderança que prega a colaboração, mas age com autoritarismo. Ou em um professor que ensina ética, mas ignora os próprios valores. O que se quebra aqui não é apenas a relação de um indivíduo consigo mesmo, mas a credibilidade que mantém com aqueles ao seu redor.
Uma reflexão sobre o coletivo
Vivemos em uma sociedade marcada pela incoerência sistêmica. Defendemos a igualdade, mas aceitamos estruturas que perpetuam a desigualdade. Falamos de liberdade, mas nos omitimos diante de opressões. A coletividade só pode ser justa se for coerente. Assim como na vida individual, na vida em sociedade a fragmentação de valores gera caos.
Por isso, a coerência não é apenas uma virtude individual; ela é um imperativo social. Quando nos esforçamos para viver de forma íntegra, inspiramos os outros a fazerem o mesmo. Nossa coerência torna-se um ato político, uma declaração de que acreditamos em uma humanidade melhor.
O desafio cotidiano da coerência
Vale lembrar que viver de forma coerente não é uma tarefa simples. Não faltam distrações, tentações e justificativas para o comportamento contraditório. Porém, essa dificuldade não é um motivo para desistir, mas uma oportunidade de exercitar nossa humanidade. Somos seres falíveis, mas também capazes de nos superar.
Reconhecer a hipocrisia em nós mesmos é o primeiro passo. A partir daí, cabe a cada um questionar: minhas ações refletem meus valores? Meu discurso corresponde à minha prática? Meu comportamento diário honra os princípios que defendo? Essas perguntas nos mantêm vigilantes e nos conduzem à transformação.
Uma vida de unidade
Quando Gandhi afirma que “a vida é um todo indivisível”, ele nos convida a um projeto de unidade, no qual pensamentos, palavras e ações formam um conjunto harmônico. A coerência não é apenas um ideal ético; é uma fonte de paz interior. Pois, no final das contas, não há tranquilidade maior do que viver alinhado com aquilo que se acredita.
Assim, cada escolha que fazemos é uma oportunidade de aproximar o que somos daquilo que aspiramos ser. A coerência, apesar de desafiadora, é o que nos permite construir uma existência significativa, tanto para nós mesmos quanto para o mundo ao nosso redor.