Alguns são mais lentos, outros mais rápidos na caminhada.
Não queira exigir dos outros aquilo que nem sempre você mesmo consegue fazer.
Tenha compreensão pelos erros do próximo, e aguarde que possam escalar aos poucos a montanha íngreme da virtude.
Ninguém pode tornar-se santo da noite para o dia.
Tenha paciência com os companheiros de sua jornada na terra.
A caminhada da vida, como diria Mário Sérgio Cortella, é marcada pela pluralidade dos ritmos e pelas diferenças nas trilhas que cada um escolhe ou que o próprio caminho lhe impõe. Há os que avançam em passos largos, quase como se flutuassem, enquanto outros enfrentam a dureza do chão, em passos lentos e hesitantes. Essa diversidade de andamentos, de velocidades e de trajetórias faz parte da complexidade da vida humana. E, nesse entrelaçamento de passos e ritmos, surge a necessidade da paciência e da compreensão.
Como cobrar do outro aquilo que, em tantas vezes, nem nós mesmos conseguimos atingir? Essa reflexão nos chama a um exame interior antes de exigirmos qualquer coisa daqueles que caminham ao nosso lado. O próprio conceito de “exigência” precisa ser questionado, pois, ao buscarmos o crescimento e a superação, estamos constantemente enfrentando as nossas limitações e falhas.
A jornada humana não é homogênea. Cada um de nós carrega uma bagagem única, composta de vivências, limitações, talentos, erros e aprendizados. Assim, não faz sentido apressar o passo de quem ainda luta para vencer seus próprios desafios ou impor padrões que não cabem em todos os cenários. O caminho da virtude é longo e, muitas vezes, árduo. Escalar as montanhas da ética e da virtude não é tarefa que se faça com pressa. Ela exige um processo contínuo de construção, com paciência e humildade.
A Compreensão como Alicerce da Virtude
Compreender o outro, reconhecer suas dificuldades e respeitar seu ritmo é uma das primeiras lições da convivência humana. Não se trata de resignação, mas de empatia: enxergar o outro como ser humano, sujeito a falhas, a dúvidas e a medos. Tantas vezes, a impaciência e a intolerância apenas dificultam essa escalada. A compreensão, ao contrário, abre espaço para que cada um siga no seu tempo, incentivado a crescer e amadurecer, mas sem ser sobrecarregado por expectativas desmedidas.
Talvez, em nosso cotidiano, esqueçamos que o crescimento pessoal e moral não ocorre em linha reta, tampouco é uniforme para todos. Enquanto um pode avançar rapidamente em um aspecto da vida, como o desenvolvimento profissional, pode ainda encontrar dificuldades em amadurecer emocionalmente ou em compreender as complexidades éticas. Essa é a jornada humana, repleta de singularidades e de desafios próprios para cada indivíduo.
A Montanha Íngreme da Virtude
Cortella nos lembra de uma verdade essencial: a virtude é como uma montanha íngreme, que não se escala de forma instantânea. O progresso ético, o desenvolvimento de qualidades como a honestidade, a compaixão e a coragem, exigem empenho, disciplina e, muitas vezes, uma longa caminhada. Não basta desejar ser virtuoso ou ético; é preciso caminhar ativamente, dia após dia, nessa direção. Esse processo é lento e muitas vezes doloroso, mas necessário.
Além disso, é um erro acreditar que a virtude é um objetivo que, uma vez alcançado, permanece fixo. A ética e a moralidade não são estados, mas processos. Cada escolha e cada situação nos coloca em uma nova encruzilhada, onde a virtude precisa ser reavaliada e confirmada. O verdadeiro sentido da virtude está na constância da busca, na persistência em escolher, momento a momento, o que é justo, correto e bom.
A Paciência: Virtude de Quem Acompanha a Caminhada
Nesse sentido, a paciência se torna uma das virtudes mais nobres e difíceis de praticar. Não apenas a paciência com nossos próprios processos e dificuldades, mas também com o ritmo do outro. Muitas vezes, queremos que aqueles ao nosso redor avancem, mudem ou se transformem rapidamente, ignorando que cada um possui seu próprio tempo de amadurecimento.
Exercer a paciência é lembrar-se de que ninguém se torna santo da noite para o dia. A sabedoria popular já nos alerta: “a pressa é inimiga da perfeição”. Em um mundo que frequentemente valoriza a velocidade e a eficiência, pode ser difícil aceitar essa verdade. Contudo, reconhecer o tempo de cada um é essencial para o bem-estar coletivo. Somos todos parte de uma sociedade que se constrói pela diversidade de talentos, limitações e velocidades.
A paciência, nesse sentido, é uma forma de respeito. Respeitar o tempo do outro, sua individualidade e suas dificuldades é um gesto de humanidade. Isso não significa, claro, condescender com o erro ou abandonar a responsabilidade. O estímulo à virtude deve ser constante, mas sempre de modo compreensivo e construtivo.
O Papel da Paciência na Convivência Humana
Imagine um mundo onde todos exigissem dos outros a mesma velocidade, a mesma eficiência e o mesmo nível de virtude. Esse mundo seria, além de impiedoso, insustentável. Cada um de nós carrega uma história única, que molda o nosso ritmo e as nossas escolhas. A convivência humana é rica justamente porque inclui pessoas em diferentes estágios de desenvolvimento, com experiências e perspectivas variadas.
A paciência, portanto, é um alicerce da convivência. É ela que nos permite manter a harmonia em um mundo marcado pela diversidade. É ela que nos ensina a respeitar o tempo do outro e a cultivar um ambiente onde todos possam crescer.
Essa convivência pacífica e respeitosa é fundamental para o avanço coletivo. Só é possível construir uma sociedade mais ética, justa e solidária quando reconhecemos e valorizamos as diferenças de tempo e de ritmo. E, acima de tudo, quando praticamos a paciência.
Cultivando a Paciência em Nosso Cotidiano
Mas, afinal, como cultivar essa paciência? Em primeiro lugar, é necessário reconhecer nossas próprias limitações e o quanto somos também falíveis. Quando lembramos de nossa própria imperfeição, fica mais fácil compreender a do outro. A prática da paciência começa no autoconhecimento, pois é nele que encontramos a empatia necessária para conviver harmoniosamente.
Além disso, é fundamental aceitar que o crescimento humano não se completa. Sempre haverá novas lições, novos desafios e novas oportunidades para fortalecer as nossas virtudes. Essa consciência nos ajuda a ser mais generosos com os outros e conosco mesmos, cultivando a paciência como uma forma de amor e de respeito.
Conclusão: Uma Jornada Sem Pressa
A vida é uma caminhada compartilhada, onde cada um segue seu próprio compasso. Ao adotarmos a paciência como virtude, damos espaço para que cada pessoa siga sua jornada sem a opressão de expectativas externas. A paciência, mais do que um simples traço de caráter, é um convite à sabedoria, à serenidade e ao respeito.
Afinal, como lembra Cortella, a vida não se faz na pressa, mas na constância. Que possamos, então, seguir em frente com paciência e compreensão, reconhecendo que o verdadeiro valor está não na rapidez, mas na profundidade e na qualidade da nossa caminhada.