Lindas Mensagens

A Ilusão do Presente Perfeito

Quando minha filha Júlia, ainda pequena, viu um bercinho de brinquedo muito simples em uma feira hippie em Campinas, ela se apaixonou. Pediu o tal bercinho de presente de Natal.
Pela correria de fim de ano, confesso que esqueci de voltar à feira para comprar aquele berço.

Sentindo-me culpado, resolvi compensar e fazer algo que imaginava ser muito melhor. Encontrei uma marcenaria e encomendei um berço incrível, muito melhor do que aquele da feirinha.
Pelo meu ego, tinha certeza de que a surpresa faria Julia extremamente feliz.

Na hora de abrir os presentes na noite de Natal, fiquei na expectativa, esperando para ver a carinha dela de felicidade. Mas…
ver que dentro do pacote não estava o bercinho da feira hippie talvez tenha sido a maior decepção da vida dela.

Isso me levou a uma reflexão muito grande sobre o que realmente pode ou não fazer alguém feliz.
Reflita você também sobre viver de forma mais simples. Que você possa presentear as pessoas queridas a começar pelo seu coração. Seja simples.

Ah, o Natal! Esse momento mágico, em que as luzes piscam, as mesas transbordam de comida e os corações se enchem de expectativa. Mas veja bem, expectativa é um negócio traiçoeiro. Ela se infiltra sorrateira, cria ilusões, molda narrativas na nossa cabeça e, muitas vezes, nos coloca diante de um dos sentimentos mais angustiantes da vida: a frustração.

Foi exatamente isso que aprendi naquela noite de Natal. Um aprendizado que, se eu tivesse ouvido mais e falado menos, talvez tivesse vindo sem tanta dor.

O Desejo Simples de uma Criança

Minha filha Júlia, ainda pequena, se encantou com um bercinho de brinquedo simples, artesanal, exposto em uma feira hippie em Campinas. O tipo de coisa que, para uma criança, faz o coração bater mais forte. O pedido veio sem rodeios: “Pai, posso ganhar esse bercinho de Natal?”.

Naquele instante, a equação da felicidade parecia resolvida. Um desejo manifestado, um objeto disponível e um pai disposto a atender. Simples, direto e sem margem para erro. Bastava voltar lá e comprar. Mas a vida tem dessas coisas. Entre as correrias de fim de ano, o compromisso inadiável que surge do nada e a distração que, sorrateira, nos afasta do essencial, eu simplesmente esqueci.

E é aqui que a história ganha contornos de tragédia grega. Sentindo-me culpado por não ter atendido ao desejo da minha filha, decidi compensar. Mas compensar de um jeito grandioso, espetacular, cinematográfico. Se ela queria um bercinho, então eu daria a ela o melhor dos bercinhos!

Quando o Ego Entra em Cena

Encomendei um berço de madeira impecável em uma marcenaria, um verdadeiro monumento da carpintaria infantil. Era sólido, bonito, com detalhes delicados, algo que certamente faria qualquer criança se encantar.

Mas veja bem, eu não estava apenas comprando um presente. Eu estava provando um ponto. Eu queria que aquele berço não apenas substituísse o da feirinha, mas o superasse em todos os aspectos. Eu queria que Júlia olhasse para ele e dissesse: “Papai, você é o máximo!”.

E é aqui que mora o engano. Porque eu não estava presenteando minha filha. Eu estava alimentando o meu próprio ego. A lógica era simples e enganosa: se algo melhor está disponível, então, automaticamente, aquilo que era desejado se torna irrelevante.

O problema é que desejo não funciona assim.

A Grande Decepção de um Pequeno Coração

Chega o Natal. A árvore pisca. As crianças aguardam ansiosas. Os presentes começam a ser distribuídos. E ali estava eu, com um sorriso no rosto, esperando o grande momento.

Júlia desembrulha o presente. Abre a caixa. Olha para dentro. E… nada. Nenhum brilho no olhar. Nenhuma exclamação de surpresa. Nenhum pulo de alegria.

O que se seguiu foi um silêncio avassalador. Mas não qualquer silêncio. Era aquele silêncio que pesa no peito, que envergonha, que denuncia o erro sem precisar de palavras.

Eu olhei para minha filha e vi um coração partido. Vi alguém que esperava uma coisa e recebeu outra. E não era qualquer coisa. Era justamente a ausência do que queria. A falta do bercinho simples.

E foi ali que entendi.

A Felicidade Não Está na Troca, Mas na Escuta

Na ânsia de proporcionar um presente “melhor”, eu ignorei o que minha filha realmente queria. Não era sobre o objeto em si, mas sobre o que aquele bercinho da feira representava para ela. O encantamento não estava nas qualidades objetivas do presente, mas na conexão emocional que Júlia havia criado com ele.

E então eu percebi: a felicidade não está no tamanho, na sofisticação ou no preço das coisas. Está na sintonia com o desejo do outro. Está na capacidade de escutar, de compreender, de perceber o que realmente importa.

Muitas vezes, buscamos demonstrar nosso amor da forma que consideramos mais impressionante. Acreditamos que um presente maior, mais sofisticado ou mais caro é, automaticamente, melhor. Mas, na verdade, o que faz a diferença não é o valor do presente, e sim o significado que ele carrega.

O Essencial É Invisível aos Olhos

Antoine de Saint-Exupéry já dizia em O Pequeno Príncipe: “O essencial é invisível aos olhos”. Mas parece que precisamos quebrar a cara algumas vezes para entender isso de verdade.

A simplicidade, essa virtude que tantas vezes subestimamos, tem um poder transformador. Presentear alguém não é sobre impressionar. É sobre tocar o coração.

E como fazemos isso? Sendo simples. Escutando. Observando. Entendendo o que, de fato, faz o outro feliz, sem projetar nossas próprias vaidades nesse processo.

A partir desse Natal, aprendi que o maior presente que podemos dar a alguém é a atenção genuína. E que, antes de querer surpreender, devemos perguntar: “O que realmente faria essa pessoa feliz?”.

Porque, no fim das contas, o presente não é sobre quem dá. É sobre quem recebe.

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