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Amizade: A Harmonia entre o Fluxo e o Refluxo da Vida

Vosso amigo é a satisfação de vossas necessidades.

Ele é o campo que semeia com carinho e ceifas com agradecimento.

É a vossa mesa e a vossa lareira.

Pois ides a ele com vossa fome e procurais em busca de paz.

Quando vosso amigo expressa seu pensamento, não temais o “não” de vossa própria opinião, nem prendais o “sim”.

E quando ele se cala, que vosso coração continue a ouvir seu coração,

Porque na amizade, todos os desejos, ideais, esperanças, nascem e são partilhados sem palavras, numa alegria silenciosa.

Quando vos separais de vosso amigo, não vos aflijais.

Pois o que mais nele pode tornar-se mais claro na sua ausência, como para o alpinista a montanha aparece mais clara, vista da planície.

E que não haja outra finalidade na amizade a não ser o amadurecimento de espírito.

Pois o amor que procura outra coisa a não ser a revelação de seu próprio mistério não é amor, mas uma rede armada, e somente o inaproveitável é nela apanhado.

E que o melhor de vós seja para vosso amigo.

Se ele deve conhecer o fluxo de vossa maré, que conheça também o seu refluxo.

Pois, que achais ser vosso amigo para que o procureis somente a fim de matar o tempo?

Procurai-o sempre com horas para viver:

O papel do amigo é encher a vossa necessidade, não o vosso vazio.

E na doçura da amizade, que haja risos e o partilhar dos prazeres.

Pois no orvalho de pequenas coisas, o coração encontra sua manhã e sente-se refrescado.

A amizade, esse laço que une almas de maneira única, é uma das expressões mais genuínas da experiência humana. Inspirada nos escritos de Khalil Gibran, mas ressignificada com uma reflexão contemporânea, ela revela o encontro não apenas com o outro, mas com o que há de mais profundo em nós mesmos. A amizade não se limita à satisfação de necessidades efêmeras; ela é o campo fértil onde semeamos com cuidado e colhemos com gratidão.

Na convivência com um amigo, encontramos mais do que companhia: descobrimos um espaço de acolhimento e troca, onde nossas inquietudes se desnudam sem receio de julgamento. Tal como uma lareira aquece em noites frias, a amizade aquece a alma, oferecendo um abrigo contra as intempéries da vida. É nessa relação que saciamos nossa fome de pertencimento e cultivamos a paz interior.

A Escuta e o Silêncio como Partes do Encontro

Quando um amigo compartilha seus pensamentos, surge a oportunidade de exercitar o que há de mais sublime em nossa humanidade: a escuta. No entanto, escutar não significa concordar incondicionalmente; é, antes, permitir que o “não” e o “sim” coexistem com respeito e autenticidade. Aqui, a divergência se torna uma ponte, e não um abismo.

E há também o silêncio. Como Mário Sérgio Cortella frequentemente observa, o silêncio não é a ausência de comunicação, mas uma forma mais profunda de conexão. Quando um amigo se cala, o vínculo persiste, pois os corações permanecem em diálogo. Essa “alegria silenciosa”, muitas vezes, carrega mais significado do que palavras poderiam expressar.

Distância: A Perspectiva que Amplia o Sentido

A ausência de um amigo, longe de enfraquecer os laços, pode fortalecer a percepção do que realmente importa. Assim como um alpinista aprecia melhor a montanha a partir da planície, a distância oferece uma clareza que a proximidade, por vezes, oculta. Nesse espaço, aprendemos a valorizar os momentos vividos e a reconhecer o impacto que o outro tem em nossa jornada.

Esse entendimento, contudo, requer maturidade. Na amizade, não deve haver a expectativa de posse ou dependência. Antes, é um exercício de liberdade e crescimento mútuo. O amigo não está lá para preencher vazios, mas para ampliar horizontes e compartilhar o sabor das experiências vividas.

O Propósito Maior da Amizade

Uma amizade que busca um propósito utilitário perde sua essência. Ela não deve ser uma transação, mas um espaço onde o espírito amadurece e se expande. O filósofo contemporâneo nos lembra que o amor verdadeiro – seja na amizade ou em outras formas – não pode ser uma armadilha em busca de proveito. Ele é, antes, um mistério que se revela em sua plenitude, sem exigir algo em troca.

Nessa dinâmica, o amigo é alguém com quem partilhamos não apenas momentos de êxtase, mas também os de refluxo, quando a vida se torna desafiadora. É na convivência autêntica que as marés de nossa existência se revelam inteiras, permitindo que o outro conheça tanto nossas conquistas quanto nossas fragilidades.

A Doçura do Cotidiano

Por fim, é na simplicidade das pequenas coisas que a amizade se manifesta com maior beleza. Rir juntos, compartilhar prazer e celebrar a vida em sua cotidianidade são formas de manter o vínculo vivo e nutrido. No orvalho dessas vivências aparentemente simples, o coração se refresca, encontrando um renascimento diário.

 

A amizade, em sua essência, é um convite ao encontro sincero entre dois seres que caminham juntos, respeitando as individualidades e celebrando as convergências. É a arte de estar presente, mesmo na ausência, e de encontrar no outro não apenas um complemento, mas um espelho de nossas melhores possibilidades.

Que cultivemos amizades que nos desafiem, que nos inspirem e que nos ajudem a crescer. Que cada amigo seja, como diria Cortella, um “fertilizante” de nossa humanidade, promovendo o florescimento do melhor que há em nós.