Tenho que resolver um caso de sentimento.
O meu coração está angustiado. Falta-me um esclarecimento, um apoio, uma energia que toque a ferida, abrandando-a, retirando-a.
E da energia do consolo, da mudança, do desafogo de que mais preciso. Essa energia, como um raio de luz que expulsa as trevas, vem de Ti.
És Tu que a possuis, que a geras, que a envias para bem dentro de mim. E ela, chegando ao meu íntimo, me beneficia, tranqüiliza, normaliza.
Abençoa, ó Deus, o meu coração, a minha alma, o meu ser por inteiro! Que o sentimento dolorido desapareça.
Sei que me criaste e que estás na minha essência, na minha natureza mais profunda, no meu ser integral.
Agradeço cada porção de ajuda que me mandas, cada vibração, cada fagulha de paz.
Obrigado, Deus, muito obrigado!
Uma pequena reflexão sobre o assunto:
A Jornada de Davi: Sofrimento, Arrependimento e Redenção
“Estou encurvado e atormentado; entristecido, ando o dia todo de um lado para o outro. Meu corpo arde em febre, minha saúde está arruinada. Estou exausto e abatido; meus gemidos vêm de um coração angustiado.” (Salmo 38:6-8)
Neste trecho do Salmo 38, encontramos Davi expressando seu profundo sofrimento. Hernandes Dias Lopes descreve esta experiência como uma “dolorosa depressão que o arrebatou em suas possantes garras, sugando-lhe a seiva da vida”. Essa descrição é especialmente pungente, pois aponta não apenas para o sofrimento emocional, mas também para a somatização desse sofrimento — a manifestação da dor emocional através de dores físicas. Davi afirma que seu “corpo definhou” (Salmo 32:3) e que seus ossos “se desgastam” (Salmo 31:10) devido à sua angústia. Tais dores podem ser interpretadas como resultantes de uma “amplificação somatossensorial” associada à depressão de Davi.
Davi, uma figura central na Bíblia, teve uma vida repleta de altos e baixos. Além de suas vitórias grandiosas, sua vida foi marcada por pecados cujas consequências se estenderam a ele, seu povo e sua família. Esses eventos trouxeram um turbilhão de emoções e sofrimentos profundos, refletidos em muitos de seus salmos. Esses textos revelam sentimentos de desespero, abandono e até pensamentos suicidas. Embora tais pensamentos não sejam explicitamente mencionados nos salmos, eles aparecem em 2 Samuel, quando Davi lamenta a morte de seu filho Absalão: “Ah, meu filho Absalão! Meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera eu tivesse morrido em seu lugar! Ah, Absalão, meu filho, meu filho!” (2 Samuel 18:33). Essa declaração expressa a dor de perder alguém amado e o sentimento de injustiça que frequentemente acompanha essa perda.
Essa dor profunda, resultante do luto e da culpa pelos pecados, levou Davi a responder com canções que expressavam arrependimento e abriam seu coração diante de Deus. Para nós, essas canções são os salmos, que serviram de base para inúmeros louvores. Para Davi, contudo, esses salmos eram mais do que simples músicas; eles funcionavam como válvulas de escape, uma espécie de arteterapia espiritual. A composição desses salmos pode ser vista como um meio de buscar sentido na vida, onde a arteterapia e a espiritualidade se encontram para direcionar essa procura de maneira mais eficaz e satisfatória.
Talvez seja essa combinação de exposição e arrependimento que tenha feito de Davi um “homem segundo o coração de Deus” (1 Samuel 13:14). Deus, ao afirmar que Davi “fará tudo o que for da minha vontade” (Atos 13:22), não estava se referindo à perfeição de Davi, mas ao seu coração arrependido e à sua sinceridade diante de Deus. Davi não fingia estar bem ou entender tudo o que acontecia com ele; ele abria sua alma e confessava seu sofrimento, afirmando que estava “à beira de um colapso” e enfrentando “dor constante” (Salmo 38:17).
Essa vulnerabilidade diante de Deus, especialmente quando não confessava seus pecados, afetava profundamente Davi, tanto emocional quanto fisicamente: “Enquanto me recusei a confessar meu pecado, meu corpo definhou, e eu gemia o dia inteiro. Dia e noite, tua mão pesava sobre mim; minha força evaporou como água no calor do verão” (Salmo 32:3-4). A solução para esse sofrimento estava em Deus, através da confissão e arrependimento. Afinal, esconder algo de Deus é inútil, pois Ele conhece todos os nossos pensamentos e sentimentos: “Tu conheces meus desejos, Senhor, e ouves cada um de meus suspiros” (Salmo 38:9).
Confessar nossos pecados e sentimentos a Deus é essencial para o processo de autoconhecimento e cura emocional. Davi nos ensina que dar nome aos nossos sentimentos é um passo importante para a aproximação e dependência de Deus. Ele quer que venhamos a falar com Ele, expondo nossa alma, tal como Davi fazia. Essa honestidade diante de Deus não apenas nos aproxima d’Ele, mas também nos ajuda a encontrar sentido e direção em nossas vidas.
Em conclusão, a vida de Davi, marcada por sofrimento, arrependimento e redenção, serve como um poderoso exemplo de como a espiritualidade e a expressão artística podem nos ajudar a lidar com nossas dores mais profundas. Os salmos de Davi não são apenas antigos textos religiosos; eles são um testemunho eterno de como abrir nosso coração a Deus pode nos trazer cura e renovação. Que possamos, como Davi, buscar em Deus a solução para nossos sofrimentos e encontrar, através da confissão e da arte, um caminho para a verdadeira paz e alegria.