Entre as Colinas
Entre as colinas, quando vos sentirdes à sombra fresca dos álamos brancos, partilhando da paz e da serenidade dos campos e dos prados distantes, então que vosso coração diga em silêncio:
“Deus repousa na razão”.
E quando bramir a tempestade, e o vento poderoso sacudir a floresta, e o trovão e o relâmpago proclamarem a majestade do céu, então que vosso coração diga com temor e respeito:
“Deus age na Paixão”.
E já que sois um sopro na esfera de Deus e uma folha na floresta de Deus, também devereis descansar na razão e agir na paixão.
Em meio às colinas, há um espaço que transcende o tempo, um lugar onde a natureza se torna eloquente, comunicando mensagens que ultrapassam as palavras. Sob a sombra fresca dos álamos brancos, sentimos a serenidade dos campos e a quietude dos prados distantes. Este é um convite à contemplação, um chamado para ouvir o que o coração sussurra quando tudo ao redor se aquieta.
Neste cenário de paz, emerge uma reflexão: “Deus repousa na razão.” É na tranquilidade e na harmonia que encontramos a manifestação de um Deus que estrutura o universo com equilíbrio e lógica, convidando-nos a contemplar, compreender e buscar significado. A razão é a âncora que nos mantém firmes diante das adversidades e o guia que ilumina nossas escolhas.
Mas, assim como o dia alterna com a noite, a serenidade também cede lugar à tempestade. Quando o céu se enche de trovões, quando os ventos rugem e os relâmpagos cortam a escuridão, somos tomados por outra faceta divina: “Deus age na paixão.” Aqui, a força criadora, muitas vezes tumultuosa, nos lembra de que a vida é movimento, intensidade e transformação. A paixão não é apenas emoção descontrolada, mas o impulso vital que nos empurra para o desconhecido, o combustível das grandes realizações e dos momentos de superação.
O Equilíbrio como Caminho
Como humanos, somos convidados a espelhar essa dualidade divina. Somos, simultaneamente, razão e paixão. Um sopro na esfera de Deus e uma folha na floresta divina, nossa existência é entrelaçada com esses dois aspectos. A razão nos dá clareza, nos ajuda a planejar e analisar; a paixão nos dá energia, inspira e move.
O desafio, no entanto, está em harmonizá-las. Se nos deixarmos levar exclusivamente pela razão, a vida pode se tornar fria, desprovida de emoção e sentido. Por outro lado, viver apenas pela paixão pode nos levar à impulsividade, ao caos e à perda de controle. A sabedoria está em encontrar o ponto de equilíbrio, o espaço onde essas duas forças coexistem e se complementam.
Aprendendo com a Natureza
A natureza é nossa maior professora nesse aprendizado. Sob os álamos brancos, vemos a paciência da criação: as árvores crescem lentamente, os rios esculpem montanhas ao longo de milênios, as estações se alternam com precisão. Esse é o domínio da razão, onde tudo tem um propósito, uma ordem, um tempo certo.
Mas a natureza também se expressa na tempestade, na erupção de um vulcão, no ímpeto de um rio que transborda. Esses momentos nos lembram da paixão, da força irreprimível que pode romper padrões, criar novos caminhos e renovar o que parecia estático.
A Dimensão Humana
No contexto humano, a razão e a paixão se manifestam em inúmeras situações. Pensemos em um artista, que precisa da paixão para criar, mas da razão para moldar sua obra. Um cientista, por sua vez, deve ter a disciplina da razão, mas é a paixão pela descoberta que o impulsiona. Em nossas vidas pessoais, amamos com paixão, mas mantemos os relacionamentos com a razão.
Portanto, a vida plena exige o diálogo constante entre essas duas dimensões. Não é uma tarefa simples, mas é um caminho essencial para o crescimento e a realização.
Uma Perspectiva Espiritual
Do ponto de vista espiritual, essa dualidade nos aproxima do mistério da criação divina. Se Deus repousa na razão, Ele é o arquiteto do cosmos, o organizador de todas as coisas. Se Ele age na paixão, é também o fogo que transforma, a energia que move o universo. Ao nos tornarmos conscientes disso, somos chamados a espelhar essas qualidades em nossas ações.
Descansar na razão significa cultivar momentos de quietude, reflexão e aprendizado. Agir na paixão significa abraçar desafios, seguir nossos sonhos e viver com intensidade. Como folhas na floresta de Deus, balançamos entre a serenidade e o ímpeto, e é nesse balanço que encontramos nossa essência.
Uma Convocação
Neste cenário simbólico das colinas, o convite se torna claro: não ignore a razão, mas também não tema a paixão. Viva ambas. Encontre Deus nos momentos de silêncio e na explosão de energia. Permita que a razão seja sua base e que a paixão seja o impulso que o leva além do que você acredita ser possível.
Ao final, quando a razão e a paixão estiverem em harmonia, nossa existência não será apenas um eco da criação divina, mas um reflexo ativo de sua beleza e complexidade.