Os índios são chamados de selvagens, mas acredito que são muito mais civilizados do que nós para se relacionar com a natureza e com o Universo. Leia com atenção um trecho do texto The Invitation, inspirado por Sonhador da Montanha Oriah, um ancião índio americano, e inspire-se:
“Não me interessa saber o que você faz para ganhar a vida. Quero saber o que você deseja ardentemente, se ousa sonhar em atender aquilo por que seu coração anseia.
Não me interessa saber a sua idade. […]
Quero saber o que o sustenta a partir de dentro, quando tudo mais desmorona.
Quero saber se consegue ficar sozinho consigo mesmo e se, realmente, gosta da companhia que tem nos momentos vazios”.
Em um mundo onde a palavra “civilização” é frequentemente usada como um sinônimo de progresso, tecnologia e organização social, é necessário fazer uma pausa e refletir: será que, de fato, somos tão civilizados quanto acreditamos? Ou melhor, será que entendemos corretamente o que significa ser civilizado?
Os povos indígenas, muitas vezes rotulados como “selvagens” por uma visão etnocêntrica, possuem uma relação com a natureza, o tempo e o sagrado que muitos de nós, habitantes das grandes cidades, sequer conseguimos conceber. Sua existência não se baseia apenas em acumular, produzir ou competir, mas em pertencer, compreender e coexistir. Essa visão ressoa profundamente no poema “The Invitation”, inspirado por Sonhador da Montanha Oriah, um ancião indígena norte-americano.
Uma provocação sobre a essência da vida
O trecho abaixo de “The Invitation” nos convida a uma reflexão profunda:
“Não me interessa saber o que você faz para ganhar a vida. Quero saber o que você deseja ardentemente, se ousa sonhar em atender aquilo por que seu coração anseia.
Não me interessa saber a sua idade. […]
Quero saber o que o sustenta a partir de dentro, quando tudo mais desmorona.
Quero saber se consegue ficar sozinho consigo mesmo e se, realmente, gosta da companhia que tem nos momentos vazios.”
Essa passagem não é apenas um conjunto de frases bonitas; é uma interrogação existencial, uma provocação filosófica sobre o que realmente importa na vida. Em um mundo onde somos constantemente questionados sobre o que fazemos, qual é nossa função social e o que possuímos, raramente somos indagados sobre o que nos move, o que nos sustenta na solidão e o que verdadeiramente nos faz sentir vivos.
A conexão dos povos indígenas com o essencial
Os povos indígenas, seja na América do Norte, na Amazônia ou em qualquer outro canto do planeta, trazem consigo um saber ancestral, construído sobre a observação da natureza, o respeito pelos ciclos da vida e a compreensão de que tudo está interligado. Diferente do pensamento cartesiano, que fragmenta e separa, as culturas indígenas enxergam o ser humano como parte de um todo maior.
Enquanto muitos na sociedade ocidental sofrem com ansiedade, alienação e desconexão, os povos tradicionais nos lembram da importância de estar presente, ouvir o silêncio e respeitar os ritmos naturais. Não se trata de romantizar ou idealizar, mas de reconhecer que há sabedoria na simplicidade e que um modo de vida mais conectado ao essencial pode ser um caminho para o equilíbrio.
Ser civilizado é mais do que seguir regras
A ideia de civilização não pode ser reduzida a edifícios altos, arranha-céus de vidro ou avanços tecnológicos. Afinal, que civilização é essa que polui seus próprios rios, destroi florestas e consome recursos de forma insustentável? Que civilização é essa que prega o progresso, mas gera desigualdade, exclusão e sofrimento?
O antropólogo Claude Lévi-Strauss, em sua obra “Tristes Trópicos”, já questionava essa noção de superioridade civilizatória ao estudar as sociedades indígenas. Ele percebeu que muitas dessas comunidades possuíam sistemas sofisticados de organização social, educação oral e conhecimento ecológico que, em muitos aspectos, superaram os da sociedade ocidental.
O convite para um novo olhar
O trecho de Oriah nos convida a uma revolução interna. Ele nos desafia a olhar para dentro e questionar:
- O que realmente nos move?
- O que nos dá força quando tudo parece ruir?
- O que nos sustenta nos momentos de solidão?
Essas perguntas são mais importantes do que jamais foram. Vivemos em uma era em que somos bombardeados por informações, distrações e demandas externas. A conexão com o essencial — que os povos indígenas mantêm viva há séculos — pode ser o antídoto para o vazio que muitos sentem.
Talvez a verdadeira civilização não esteja apenas na ciência, na economia ou nas instituições políticas, mas na capacidade de viver com respeito ao outro, à natureza e a nós mesmos. Ser civilizado, no fim das contas, talvez seja menos sobre o que construímos e mais sobre como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor.
Se aceitarmos esse convite para olhar para dentro, talvez descubramos que a verdadeira riqueza não está no que possuímos, mas no modo como escolhemos viver.